3 de outubro de 2009

Boas Novas


Ontem fiz a primeira leitura de O Jogador e imprimi o material para levar à revisão. Devo deixá-lo na segunda-feira com Eugênia Mª D. Peixoto para que ela faça a leitura e depois encaminhe o material para Mª Cristina de Souza.
Ainda em relação a O Jogador, recebi um e-mail da Editora Bibliotexa 24X7, via Mesa do Editor, para a publicação do livro. De qualquer forma, fico feliz pelo interesse da citada editora, mas, como já ocorreu com Memórias em Ruína, não devo aceitar. A ideia de pagar qualquer quantia para publicar não me agrada. Além disso, fazendo uma rápida pesquisa no site da Biblioteca 24x7 (que nome é esse?), li que eles alugam o livro em formato eletrônico. Achei uma ideia estranha e, para mim, nada atraente. Outro fator que me fez negar o pedido foi a taxa de R$ 300,00 a ser paga para a montagem do livro eletrônico.
Há outras possibilidades para se autopublicar hoje em dia, e o melhor, sem pagar nada por isso. Quem conhece o Clube de Autores sabe do que estou falando. LIvro físico e livro eletrônico sem gastos e sem surpresas desagradáveis.
Dessa forma, digo: Não, muito obrigado, caríssimo editor.

"Tá bom", depois de muita insistência por parte dos amigos e de alguns leitores, voltei a trabalhar o texto de A Vila do Medo. Assim que corrigir a pilha imensa de provas que tomou minha mesa e terminar a leitura de O Voo da Rainha (Tomaz Eloy Martinez), darei à história de suspense a atenção merecida. O problema é que já faz mais de um ano que escrevi os primeiros capítulos, portanto conseguir manter a linha de escrita e o sentimento da narrativa não será nada fácil. Terei que fazer as pesquisas de novo, buscar o clima certo, assistir a filmes, reler livros para não fugir à proposta inicial.
É pena que eu queira muito escrever uma outra história, A Marcenaria (título provisório).

Vamos ver o que o fim de semana me traz.
Um grande abraço aos amigos leitores.

28 de setembro de 2009

O fim de uma jornada, ou o capítulo final

Quando Jean e eu iniciamos o Vida de Escritor, estávamos enfrentando as primeiras panes do nosso Conto Conspiratório, o malfadado livro à quatro mãos. A idéia original era escrever sobre as dificuldades em se escrever quando a mente e os problemas cotidianos influem na tecitura do texto. Bem, já faz, mais ou menos, dois anos que o blog foi ao ar, três romances — dois publicados e outro indo para a revisão — escritos por mim, alguns poemas e várias entradas no diário eletrônico, sem que o nosso texto avançasse mais do que três capítulos.
O blog foi jogado às traças, depois que eu o assumi, escrevendo meus dias de angústia e batalhas sangrentas com as palavras. Jean abandonou o projeto, eu o segui, contando meus pensamentos e alguns dos acontecimentos bizarros, engraçados, tristes, lastimosos e felizes da minha vida, não só de escritor, como também pessoal, profissional e afetiva.
Agora, com poucas e nada frequentes entradas, volto a escrever minha parte da estranha Vida de Escritor. Venci, pois, o hiato que me separou por um bom tempo da atividade literária. Depois da publicação de Intermitência, a separação dói — Corifeu, 2008 — escrevi alguns capítulos da infame Vila do Medo e, antes do clímax, voltei minhas fichas para Memórias em Ruína. Terminada a redação inicial, deixei-o arquivado em alguma pasta no computador e esqueci o quão prazeroso é escrever. Não sei se por não obter o retorno desejado com Intermitência ou por estafa mental, não me sentei para escrever durante meses; aposentadoria por invalidez no INSS literário. Em julho, ou junho, deste ano, comecei a escrever as primeiras páginas de O Jogador. Queria escrever algo diferente, sem muita reflexão íntima, com muita ação, mas discorrendo sobre algo do meu interesse. Decidi abordar os jogos de sinuca, uma velha paixão. Depois de longa pesquisa, encontrei a hora certa para começar. Foram mais ou menos três meses pensando e trabalhando o texto. Durante três meses O Jogador fez parte de minha vida. Ontem escrevi a última frase do livro. Hoje sinto um vazio. Não ter mais o que escrever, não ter mais o que criar gerou-me a sensação de nulidade. Penso em voltar ao texto, reescrevê-lo, modificá-lo apenas para não aceitar que chegamos ao fim. Não mais nos pertencemos. Devo entregar o original à revisão ainda esta semana, por isso a despedida é dura. Nunca trato meus textos como filhos ou entes queridos, mas com este a impressão é que não termino um trabalho, mas lhe dou vida, ou o lanço para a vida como uma criança diante das mazelas de um mundo doente.
Foi divertido sonhar com as tacadas de Heitor, com as curvas do corpo de Victória, com a maldade de Munro, com a ganância de Hernan Lopera, com a vingança de Paulo Caçapa, com a corrupção do Capitão Dantas, com a ingenuidade de Thiago, com a tristeza de Fabiana, com a elegância de Raul Vergara e o enigma de Aldone. Sentirei falta dos meus personagens como sentiria de um parente que se vai. Dou-lhes, então, o meu adeus. Desejo-lhes sucesso na jornada. Que seus caminhos sejam melhores do que o meu.
Agora que o trabalho, e a jogatina, acabou, preciso de um tempo para aliviar a cabeça. Pensar no próximo trabalho. Já tenho um roteiro pronto, as madeiras no galpão para construir A Marcenaria. Não sei ao certo, mas acredito que este meu novo projeto se torne o mais novo xodó. Pelo menos no esboço a ideia me encantou de tal modo que as personagens ainda em gestação já ganharam o meu afeto. Não vejo a hora de começar a escrever o texto que contará a saga do velho marceneiro e seus conflitos num mundo moderno. Volto ao trabalho psicológico-memoralista, semelhante ao desenvolvido em Memórias em Ruína. E por falar nisso, é incrível como Memórias, Leite Derramado e Os Órfãos do Eldorado se parecem até mesmo nas diferenças. Mas isso fica para uma próxima vez.

11 de setembro de 2009

O ontem, hoje

Engraçado como as coisas se pintam na vida. Às vezes se tem tanto a dizer, mas o interlocutor é surdo aos nossos delírios, ou somos mudos quando realmente temos algo de importante a dizer. Passamos por crises diversas na vida, umas importantes demais, outras insignificantes, mas, em geral, são essas que não têm o grande peso que nos põe loucos, ou à beira de um ataque de nervos.

Perdoem-me os amigos, mas estou hoje um tanto sentimental, saudosista, nostálgico. Falta-me o fogo, esfriou o quarto tão de repente, que não tive tempo de buscar o cobertor. Será que o presente está rumando para o passado? Não me entendo quando se trata da emoção. Talvez seja a estrela que morreu, extinguindo seu brilho. Não, realmente não entendo.

Sinto saudade no meu peito, e minha consciência grita como um desesperado em agonia. Tenho saudades, mas não sei se do hoje, ou do ontem longínquo residente nos escombros da memória. Está tão frio aqui. Não me sinto à vontade, não sei mais dizer palavras confortantes, amorosas, românticas. Algo em mim está morto, ou apenas ausente. Tantas dúvidas, tantas indecisões, nenhuma certeza do que havia pouco era o Certo. Mas há certeza em algo, quando a vida é cheia de surpresas e reviravoltas indiferentes à nossa simples vontade?

Sem querer, pus-me de frente ao passado. Escolhas. Desleixos. Inocência. Descuidos. A vida tão surpreendente quando nos guia o caminho por onde nunca imaginávamos passar.
Quem imaginaria, num dia comum, esbarrar com dois passados, ao mesmo tempo, juntos? Dois passados sorridentes, numa caminhada despreocupada pelas ruas do presente. O tempo. Os anos correm, as pessoas envelhecem, perdendo a beleza da juventude. As bocas, os calafrios, os sentimentos, tudo muda; nada permanece igual ao que era antes. Corpos, bocas, nucas. O cheiro, este não muda. As paixões do antes não voltam ao coração. Só mesmo na etimologia, trazemos de volta as imagens perdidas nas falhas da memória. Duas bocas. Duas línguas. Dois corpos. Todos somados a um, formavam um triângulo saudoso de cheiros, cabelos, pelos unidos sobre o mesmo lençol.

Quantos anos se foram no calendário das vagas lembranças? No mínimo dez, onze talvez. Quantas palpitações de corpos se perderam? Quantas carícias? Quantas juras em segredo? Foram amores verdadeiros ou devaneios de paixão? Ah, nada melhor do que o cheiro do passado como o da chuva fina no asfalto!

As três bocas estalaram em toques no rosto, acompanhadas de palavras aos surdos, ditas como mudos, em passos que se separaram depois. As bocas, os corpos se foram. E eu fiquei imóvel em meu instante. Mas agora sinto o gosto que o tempo malogrou. As bocas que foram minhas, e hoje nada são. Os corpos que tive, e hoje não passam de cogitação.

Façamos, então, um brinde ao ontem, como singela lembrança da juventude expirada; como uma sutil recordação do que já não volta, nem vale a pena voltar.
Alberto da Cruz