9 de agosto de 2011

Procura-se um leitor

Lia o último livro de Rubem Fonseca, uma coletânea de crônicas chamada O Romance Morreu, quando parei para pensar no assunto do texto inicial. Hoje é tão difícil ver jovens dedicando o seu tempo à leitura, afinal são tantas as comodidades da televisão, do rádio, da falta do que fazer, que ler um livro é absolutamente descartável. O jovem não gosta de ler, seja porque não entende metade do que está escrito a sua frente, seja por preguiça de mergulhar no mundo mágico da leitura.

Não há mais tempo para magia. O mundo é rápido, de informações precisas. Ler requer tempo e dedicação, coisa rara neste universo de mensagens instantâneas pelo computador. O livro se perde, se esquece, morre aos poucos como um indigente qualquer.

É espantoso que em meio a tantos velórios simbólicos cresça o número de escritores diariamente. Mas o que não entendo é, justamente nesse ponto conflitante está a questão, que se não há mais leitores, como pode haver tantas pessoas escrevendo suas histórias? Escrevem para quê? Para quem?

Novos escritores têm dificuldades imensas para conseguir o seu espaço no mercado editorial, esse imenso monstro que nos assusta tanto como o bicho-papão de nossa infância. É mesmo complicado despertar interesse por parte das grandes editoras para lançar o seu nome nos catálogos, mas não é impossível, pois se realmente fosse, elas estariam falidas em pouco tempo, porque sem renovação do quadro de autores seria incrível manterem-se. Ainda existem as pequenas editoras, que juntas garantem uma boa fatia do mercado. Mas se além das grandes, as pequenas também conseguem, embora com menos barulho, o seu espaço, há algo errado quando dizemos que não temos mais leitores.

Seria perfeito se ainda hoje o fluxo fosse o mesmo daquele existente nos séculos XVIII e XIX, quando a principal forma de entretenimento eram os livros, os grandiosos romances de José de Alencar a Machado de Assis espalhados pela cidade em folhetins, volumes editados, não na estante, mas nas mãos de felizes e sonhadoras pessoas. Aí sim poderíamos dizer que não nos faltam leitores. Mas acontece que o tempo passou, o mundo mudou tão rapidamente que muita coisa perdeu espaço para outras. A televisão, por exemplo, é um dos maiores inimigos da leitura, não porque a substitui, mas porque as informações veiculadas são rápidas, correspondendo às expectativas das pessoas que não possuem tempo para dividir entre trabalho, família e lazer. O livro é um prazer individual, não se pode dar-se a ele coletivamente. Não se pode reunir a família para uma leitura densa e delirante, como deve ser. A leitura abre a mente numa viagem solitária para lugares incríveis. Cada um tem sua própria forma de ver a realidade representada em cada parágrafo, em cada frase, tornando impossível a viagem em companhia. Já a televisão não, ela reúne, diverte, emociona ao mesmo tempo a família inteira, embora a união também seja solitária, porque ninguém conversa fora do tempo dos comerciais.

Há poucos anos surgiu a conversa de que os livros não seriam mais impressos, porque com as preocupações ambientais e o avanço tecnológico o papel seria substituído por dados, os e-books, ou livros eletrônicos, surgiram para acabar com o livro físico. Resolução para os problemas da vida moderna, o desmatamento e a falta de espaço. Centenas de livros guardados num único CD devia ser o pensamento do inventor dessa insanidade. Quem ama os livros sabe a diferença entre o texto virtual e o físico. Não há como comparar o prazer de se folhear um livro, de sentir sua textura e provar o seu aroma. A idéia do extermínio não parece ter ido longe, mas foi de grande valia o crescimento da internet e dos e-books, pois muitos daqueles rejeitados pelas companhias livreiras puderam aparecer ao público com seus próprios e valorosos esforços.

Uma rápida pesquisa em sites de busca nos revela a existência de milhares de novos escritores. E juntamente com eles, um número ainda maior de leitores. As pessoas, portanto, lêem hoje, infelizmente não como nos tempos em que o livro era o único meio de se perder nas tramas fictícias. Dividimos o bolo, mas ainda temos nossa parte, e ela não é tão pequena como se imagina. Se quisermos aumentá-la, é preciso que deixemos a soberba de lado e nos preocupemos em conquistar mais e mais adeptos, agentes ou passivos, dessa atividade magnífica que é a literatura, para que não precisemos pendurar placas com os dizeres de “procura-se um leitor” pelas ruas.

Alberto da Cruz