28 de dezembro de 2012

Do amor quando se apaga


Estou agora ouvindo Todo o Sentimento, de Chico Buarque, e me parece que a dor aumenta à medida que meu sentimento é sangue escorrendo pela ferida exposta e dolorida. O amor quando se torna dor é um insuportável lamentar sem fim, o amor quando não há o ser amado é uma queda brusca no abismo do eu. 

Meu amor foi embora, ou eu o perdi na luta vã do cotidiano ignorante. Foi para não voltar, batendo a porta, sem dizer adeus. Ficou a lembrança daqueles dias azuis, mas que agora são cinzas, enevoados pela ausência que seca a alma e transborda os olhos, cheios de imagens antes cristalinas. 

É incrível pensar que antes sentido havia, mas agora a vida é, no mínimo, vazia. O jarro de flores mortas anda seco, a divina estrela d’aurora não brilha mais, a pomba branca, que antes voava altiva, esfacelada, chora. Como pode arrebentar as ondas quando ontem o mar era calmo? Como pode naufragar o barco que seguia em segurança pelos mares tranquilos?

Enfim, tudo acabou, eu acabei. No fim, o corpo doente é puxado para baixo com força. Abre-se a cova rasa para me cobrir com a terra pesada. A chuva são minhas lágrimas com desespero vertidas.

15 de dezembro de 2012

Mudar a vida



A vida muda num piscar de olhos, sepultando os sonhos que moviam o mundo. Criamos esperanças de que a sorte finalmente nos acolheu, mas eles morrerem numa rapidez exorbitante. Num piscar de olhos tudo muda. E a mudança não é nada agradável ao coração que sofre. Uma brutal dor nos devaneia a consciência, faz estremecer o corpo, tremerem as pernas de tal maneira que a queda é tudo o que podemos esperar. Não há no mundo sofrimento maior para o amante do que ter arrancado de si o seu objeto amado. A ausência sôfrega nos leva ao precipício infernal. Se não queremos nos atirar na escuridão amarga, é ela quem nos puxa com a promessa de findar o que nos faz gritar de desespero e desilusão fatal.

     

Muda-se a vida, mas a alma não quer mudar. Ela permanece presa no espaço incansável da paixão, mesmo ferindo num ardor profano e arruinado, não queremos que a chama se apague, forçando-nos a esquecer os momentos de um passado errado. Aceitar a mudança nunca é fácil quando não se quer mudar; quando se acredita piamente que ainda há chances, mesmo que remotas, de salvar o que não tem salvação. Encarar a realidade dos fatos é tarefa difícil para quem não consegue se libertar das amarras de um sonho intenso e devastador.

As lágrimas se esboçam quando olhamos a cama vazia. Rolam quando vamos deitar e não há a quem dizer boas noites. Despencam ao acordar e não haver para quem dizer bons dias. O peito abandonado se comprime, arfa num movimento tresloucado que nos corta o ar. Vazio o quarto, vazia a vida. Mudar é preciso, mas como, se não há razões para enfrentar a luta bárbara pela sobrevivência? Não adianta dizerem que é preciso. Precisamos é da volta de quem nos virou as costas, atravessou a porta e partiu de nossas vidas, impregnando-as de um negrume assustador.
     
Mas não há ilusão por mais que queiramos que ela exista. Quem partiu deixou-nos no acalento mórbido da solidão; quem se foi nos condeno ao martírio sem fim da loucura. 

Mudar! Mas o que há para mudar, quando nem mesmo podemos ver além das nuvens carregadas de lágrimas e trovões que gritam à nossa dor?


Alberto da Cruz