28 de fevereiro de 2015

Romaria Ciclística - Dia III - Silveiras X Passa Três

Saída de Silveiras, 21 de dezembro
Domingo chegara. Dia de arrumar as coisas e voltar para casa. Mais 140 km e a Romaria chegaria ao fim na mesma Passa Três que nos viu sair antes do sol nascer. Mais um dia de pedaladas com os amigos e mais um capítulo em nossa história.
Neste último dia as meninas não iriam pedalar, mas nos seguiriam com os demais carros de apoio; portanto, logo cedo, as deixamos dormindo na pousada. Marcão, Vinny e eu fomos encontrar os outros romeiros na padaria do centro de Silveiras. Desta vez sairíamos alimentados e, apesar do cansaço, dispostos para mais um dia sobre o selim, girando os pedais para crescermos intimamente.
Desde que começamos a volta, meu pensamento pairava no Morro Frio. Embora não fosse nele que eu pensara em desistir no primeiro dia, foi a sua elevação somada ao forte calor que me retirara todas as forças para os últimos quilômetros, portanto eu o temia. Não por isso iria fraquejar quando chegasse a hora em que nos encontraríamos de novo. Desta vez eu não estaria tão cansado a ponto de pensar em jogar a toalha, ele estaria sob as rodas da minha bicicleta, não em 100km rodados, mas em apenas 40km.
Tranquilos, pedalamos sem pressa pela rodovia vazia naquele domingo de manhã. Conversávamos sobre  trivialidades, contávamos “causos” de bicicleta e, com o giro constante da pedivela, subíamos e descíamos os morros até a primeira parada.
Quando Denise caiu sobre Vinny no dia anterior, voltando de Aparecida, empenou alguns raios e desregulou o câmbio traseiro da Scale. Vinny reclamava da troca de marchas sempre que precisava subi-las. Quando fizemos a parada, Vítor conseguiu amenizar o problema. Com todas as marchas funcionando, o ritmo do Vinny aumentou e o prazer sobre a bicicleta reapareceu. Voltamos para estrada. Areias se aproximava.
Morro Frio
Começamos a subida do Morro Frio. Já havíamos subido dois longos morros antes, mas o impacto do vil inimigo era ainda forte. Iniciamos a subida com mais terror psicológico do que realmente esforço. Num ritmo leve, de passeio, fomos ganhando metros e mais metros, enquanto o suor escorria pelo rosto e as pernas giravam numa cadência suportável. Na volta o Morro Frio não era assim tão imponente. Um a um íamos vencendo-o. O algoz estava derrotado. Fizemos uma pausa para reunir todos novamente e nos prepararmos para uma bela, e rápida, descida pelos 3,5km que ainda me dão calafrios.
Alberto e Luciano, no Morro Frio
Prosseguimos o pedal até a próxima parada. O clima perfeito nos ajudava. Temperatura agradável, sem sol, sem chuva. Logo as meninas nos encontraram e se juntaram aos demais carros de apoio. A próxima parada seria para o almoço.
Almoçamos num pequeno restaurante, mas de comida farta e muito saborosa. Em seguida, descansamos um pouco antes de retornar a estrada. Apesar do pouco tempo de repouso, o corpo agradeceu. Diferente do primeiro dia, estávamos dentro do horário e não precisávamos sair às pressas para manter o cronograma. Trinta santos minutos que fizeram a energia retornar aos músculos em frangalhos.
Encaramos mais subidas cansativas, descidas divertidas, planos monótonos, retas velozes, grupos se formando, grupos se dissipando e criando novos grupos, seguimos assim até chegarmos à última parada, já próximos de Passa Três. Faltava pouco para terminar a romaria, pouco para completar mais um Gran Fondo, pouco para comemorar a vitória sobre as diversidades do caminho e também da vida.
Os longos quilômetros iam chegando ao fim. Sentia uma sensação de alívio, ao mesmo tempo de vazio. Os três dias de convívio estavam chegando ao fim, na última parte da estrada, no final de uma bela jornada. Seguíamos enfileirados, ninguém escapado à frente, ninguém sobrado atrás; estávamos todos juntos, no mesmo ritmo, na mesma cadência. E foi assim, juntos, que entramos na pequena cidade.
Ao ver as primeiras casas, as primeiras pessoas a saírem para nos parabenizar com acenos e palmas, meus olhos marejaram, como marejam agora. Um sentimento de conquista me invadiu, a vitória sobre as dificuldades, os momentos difíceis em que pensei em desistir, a alegria de completar cada etapa, a valorização das pequenas coisas. Havíamos chegado. As pessoas acenavam nos felicitando. E eu, na minha pequenez diante de um tão grande momento, agradecia por poder viver a emoção de compartilhar com os amigos os mesmos sentimentos. Subimos o morro que marcava a nossa chegada, parando na igreja.
Ao desmontar da bicicleta depois daqueles quatrocentos quilômetros, tinha uma certeza: no próximo ano, estaria com os amigos de novo. Todo o sofrimento, todo o esforço foram recompensados pela emoção gratificante de vencer os próprios limites, tanto do corpo, quanto da mente. A romaria teve um significado muito grande para mim, um saber-se vivo e capaz.


2 de fevereiro de 2015

Romaria Ciclística - Segundo dia – Silveiras x Aparecida

Grupo do Pedal
                O segundo dia de romaria começou às cinco da manhã, depois de uma ótima, e rápida, noite de sono. Sairíamos às seis horas de Silveiras, percorrendo 60 km até Aparecida. Dessa vez teríamos a companhia das meninas, já que o percurso do dia era mais suave e mais plano do que o pesadelo do dia anterior.
                Havia chovido muito na noite em que chegamos, deixando-nos preocupados quanto ao pedal até Aparecida, mas, por sorte, pela manhã apenas uma chuva fina caía, sem oferecer nenhum tipo de transtorno. Claro que algumas manifestações femininas se principiaram, mas não foram adiante.

      Saímos de Silveiras às seis da manhã, sob a chuva, sonolentos, mas com muito bom humor e animação. A temperatura estável tornou a primeira parte do pedal muito mais agradável. O tempo se pintava chuvoso e, não sendo um temporal, estava ótimo daquele jeito. Seguimos cerca de 20 km até Cachoeira Paulista, a cidade da Canção Nova, para tomarmos o desjejum de verdade. Chegamos à Pousada Imperial, onde tomaríamos o nosso café, como acontecia todos os anos na Romaria Ciclística. Porém, devido a forte chuva e alguma falha na comunicação, o proprietário não mais esperava por nós, que, famintos, aguardávamos para entrar.  Depois de uma rápida conversa entre o proprietário e Ricardo, o organizador do evento, o problema foi resolvido. Guardamos as bicicletas e fomos nos alimentar.
                Nesses momentos de tranquilidade, aproveitamos para conversar e estreitar ainda mais os laços com prazerosas conversas. Do nosso lado, o assunto ainda era sobre as bicicletas que bateram na entrada do túnel, porém agora com mais descontração. Depois de uma hora em Cachoeira Paulista, seguimos viagem; não antes de o Vítor Pereira furar o pneu de sua bicicleta novamente.
                O percurso entre Cachoeira e Aparecida foi o mais complicado da cicloviagem por entrarmos em vias urbanas diversas vezes. Disputar o espaço com os carros sempre gera um pouco de estresse e nós, cerca de trinta ciclistas, chamávamos bastante a atenção e, obviamente, incomodávamos alguns motoristas. Apesar de tudo, não tivemos nenhum problema durante a ida e pudemos chegar a Aparecida no horário estipulado. A emoção foi muito grande, mesmo eu não sendo religioso. Avistar a basílica foi um prêmio, uma vitória pessoal sobre todos os problemas e poder compartilhar desse momento com pessoas tão queridas foi sensacional.
                Ao chegar, nos dirigimos a um hotel (não me lembro do nome) para tomarmos banho e almoçarmos. Banho quente para as mulheres, chuveiro frio para os homens, numa casinha ao lado. Nada que estragasse o bom humor e o sentimento vitorioso. Almoçamos e fomos finalmente para a basílica.
                Particularmente achei a cidade de Aparecida feia, suja e bagunçada. Um contraste com a beleza do templo católico. Encantei-me com a grandiosidade da edificação, com a beleza arquitetônica, com as estátuas. O entorno merecia melhor dedicação, menos comércio, mais caridade; menos dinheiro, mais amor.

                A volta para Silveiras foi tranquila. Esperávamos a chuva forte, mas o que tivemos foi sol; não terrível e desgastante como o do primeiro dia, para nossa sorte. Durante uma boa parte do caminho permanecemos juntos, conversando, contando histórias, lembrando-se de antigas romarias e sendo felizes a nossa maneira: sobre a bicicleta.
Em certa altura, depois de Cachoeira Paulista, o grupo se dispersou. Alguns correram, disputando uma saudável corrida; outros acabaram ficando para trás. Carol, Eliete, Denise, Vinny, eu e mais alguns “cicloromeiros” ficamos no grupo intermediário até que Denise se cansou e diminuiu o ritmo em uma subida, distanciando-se de nós, já que Carol puxava a fila morro acima, querendo chegar logo a Silveiras.
Um pouco depois de nossa chegada, Vinny e Denise também chegaram. Ela havia caído. Mais um tombo na conta de nossa amiga. Denise desequilibrou-se exausta numa subida, caindo sobre o marido. Felizmente nada grave, mas desregulou a marcha e empenou a roda dianteira da Scale do Vinny, o que o deixou preocupado quanto ao dia seguinte, uma vez que da outra vez que havia participado da romaria, quebrou o quadro de carbono de sua V-works. A possibilidade de não completar a romaria nos deixou preocupados.

À noite, voltamos ao restaurante para o jantar e realizarmos nossa confraternização. A harmonia entre nós era imensa. O clima fraterno, as brincadeiras, a amizade, tudo era admirável. Eu, que debutava no grupo, só podia agradecer por estar ali presente ao lado de pessoas tão queridas e acolhedoras. Terminamos o dia com um sorriso verdadeiro no rosto e, apesar do cansaço, leves e serenos.
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