29 de julho de 2011

Zico marca mais um golaço

Romário avança pelo meio e toca rápido para Zico marcar o gol. Um momento. Zico, o Galinho de Quintino, marcar o gol? Poderia ser mais um dos golaços de Zico nos meus sonhos, mas não foi. O lance ocorreu no Jogo das Estrelas de 2009, em pleno Maracanã, palco de memoráveis jogos dos deuses do futebol carioca, nacional e internacional.

Hoje é um dia de felicidade. Hoje pude rever o maior ídolo da torcida rubro-negra em campo, defendendo as cores do Flamengo, ao lado de outros imortais que já vestiram o manto sagrado.

Arthur Antunes Coimbra acertou de novo ao convidar os homens que fizeram a alegria de milhões na década de 80 e alguns dos que nos fizeram sorrir, e continuamos a sorrir, neste ano.

Sempre falei para o meu irmão que Zico era divino, que o maestro Júnior jogava por música, que Adílio era fera, que Djalminha não fazia feio, que Gilmar fechava o gol, que Romário era o terror. E meu irmão, que só tem dez anos, dizia que o Adriano é o Imperador e que o Petkovic é craque. Não discuto com ele, não adianta. Mas hoje pude mostrar ao pequeno rubro-negro que o pouco que vi em minha infância era a mais pura verdade. Não adiantava assistir aos jogos em DVD, ele dizia que o futebol era diferente. Mas hoje não. Hoje ele viu o Zico jogar num Maracanã lotado, viu Zico fazer três gols lindíssimos, viu o Imperador perder não sei quantos gols feitos, viu Ibson e Juan mostrarem que craque o Flamengo faz em casa, viu Wilson Gottardo parar Edmundo, Charles Guerreiro roubar a bola de Vagner Love, Cláudio Adão cadenciando o meio de campo, Jorginho cruzando com precisão, Júnior driblando pelo meio, pelas pontas, Alcindo já sem nenhum cabelo, Andrade fora da área técnica, Tita desarmando o adversários, Zinho armando pela esquerda, Nunes entrando pela ponta, Renato Gaúcho sendo vaiado por mais de 75 mil pessoas e Romário dando belíssimos passes de letra com a camisa do Mais Querido. E também reviu Fábio Luciano, o capitão do Pentatri, Ibson e sua garra, Juan e seus desarmes precisos... Que lindo!

Obrigado, Zico, por mais este golaço em sua brilhante história vitoriosa. Obrigado por mostrar que todos podem fazer de um jogo beneficente mais do que uma forma de arrecadar fundos, sobretudo, obrigado por mostrar aos nossos meninos o quão bom é ser Flamengo.

Ah, já ia esquecendo, o jogo terminou em 5X5, mas isso é o menos importante.


Alberto da Cruz

26 de julho de 2011

Simples gostos na vida

Eu gosto de acordar cedo e ver o mar pela janela do quarto. Eu gosto de beber café forte e muito quente, enquanto fumo um cigarro, logo que me levanto da cama, antes de fazer qualquer coisa.

Eu gosto de fazer sexo pela manhã, embora, à tarde, seja bom e, à noite, também. Gosto de experimentar, variar, inovar. Quase dispenso todos os tabus, mas só quase, pois há alguns impraticáveis. Não tenho lugar preferido, pode ser na cama, no sofá, no chão, sobre a mesa, debaixo da mesa, no banho, na cozinha, do lado de fora, dentro do carro. O que importa é a hora do prazer, e mais nada. Mas devo confessar que às vezes prefiro o depois ao durante, aquele momento gostoso em que os corpos extasiados se abraçam e, sentindo o calor do outro, adormecemos felizes num gesto enamorado. Sexo, para mim, é entrega total. Não curto um lance casual, tem de haver envolvimento afetivo sério, fazer com amor mesmo, pois sem, nada tem graça.

Gosto de música e das emoções que ela me propicia. Não tenho um estilo definido, ouço de tudo. Para mim, o que importa é o momento, por isso podem me pegar cantando de um samba-canção de Cartola a um grito visceral de Rock. Tudo depende do instante, mas tenho meus preferidos. Chico Buarque me faz pensar, amar e produzir, meu ídolo e exemplo tanto no cenário musical quanto no campo literário. A poesia de Humberto Gessinger me fascina como os poetas contemporâneos que admiro. Alcione me faz chorar, principalmente quando estou em crises amorosas. Ouvir Cazuza cantar me dá um tremendo tesão, daqueles de deixar maluco mesmo; mas também me faz pensar na transitoriedade da vida e como o tempo é voraz. Se minha vida tivesse uma trilha sonora, ela seria de vários estilos, passeando dos clássicos compositores à musicalidade contemporânea.

Gosto de livros, minha paixão antiga. Cada volume adquirido é um orgasmo múltiplo. Vivo entre eles e de tanto estimá-los, tornei-me um bom leitor, mas poderia ser melhor. Nada me encanta mais do que uma boa leitura, seja de um romance, biografia ou poesia. A arte literária me toma os sentidos e me leva ao êxtase do supremo num gesto sublimado. Por vezes troquei diversos programas para me deleitar com um livro e, juro, jamais me arrependi de me prostrar no sofá e viajar pela madrugada. Se ler é um orgasmo, escrever é a minha doce sina. Escrevo para me livrar tédio, para espantar a solidão, para sair da rotina, para desabafar minhas mágoas, ilusões e desespero. Ganho, bem menos do que gostaria, falando de minhas tristezas e de minhas insanidades, embora já faça um bom tempo que não vejo lucros sobre minhas divagações. Não paro com a escrita, mesmo descompromissada, é ela que me acalenta um pouco o espírito revolto.

Gosto de filmes, e passo horas diante da televisão, entretido com alguma trama fictícia. Não sou um cinéfilo assumido, mas tenho minhas películas prediletas. Meu gosto é variado. Adoro comédias do tipo besteirol. Amo filmes de terror, principalmente sobre vampiros, lobisomens e assombrações. Choro assistindo a um bom drama. Quero amar da forma como vi em algum romance. Sou louco por filmes de máfia e do período da Recessão Americana. Hoje em dia tenho prazer com as produções nacionais, diferentes das pornochanchadas antigas. Assisto a, mais ou menos, cinco filmes por semana, fora aqueles que eventualmente passam nos quatorze canais específicos que assino.

Gosto de carros. Sem restrições, qualquer tipo me atrai. Tenho predileção pelos antigos nacionais que a maioria dos antigomobilistas adoram como: Maverick, Opala, Puma, Miúra e Galaxie Landau. Sou louco por esportivos importados, tive inclusive um Honda Civic que era o meu xodó, mas fui obrigado a vendê-lo. Gosto de me sentar ao volante e ouvir o barulho do motor ao virar a chave e levantar os giros. Dirigir é mais do que uma simples necessidade, é uma válvula de escape. Quando estou na estrada, faço questão de abaixar os vidros e deixar o vento bater em meu rosto. Gosto de ver a estrada pelo pára-brisa e saber que estou no controle. Amo velocidade, e às vezes exagero no acelerador, mas também curto uma volta bem devagar, observando o mundo passar a minha volta.

Gosto de plantas, de cultivá-las, de orná-las em pequenos vasos cheios de pedrinhas e musgos diversos. Quando estou com as mãos sujas de terra, delicadamente ajeitando as raízes, parece-me que esqueço as minhas próprias mazelas numa atividade catártica. Tenho meus delicados bonsai, a única forma de se ter árvores em uma casa sem espaço, e outras de diversos tipos. Perco horas debruçado sobre as pequenas plantas, podo, reparo, aramo, crio estilos, admiro, chego ao êxtase. Ainda encherei a casa de verde, mas tudo tem seu tempo certo.

Gosto de cozinhar, embora não possa comer quase nada do que levo ao fogo. Tenho prazer, pelo menos, em ver os amigos se fartando com os pratos que preparo, e chego a experimentar alguns deles apenas por vaidade, embora meu médico me repreenda por furar a dieta controlada de ingestão de açúcar, mal dos diabéticos. Aprendi a gostar de saladas e alimentos coloridos naturalmente, mas ainda enlouqueço com uma apetitosa massa.

Gosto de trabalhar, ainda que não receba o valor a que a classe educadora mereça. Realizo-me em sala de aula, quando me sinto responsável por, além de passar o conteúdo exigido pelas grades curriculares de ensino, ajudar a moldar um cidadão consciente. Meus alunos são meus amigos e os prezo da mesma forma que os íntimos. Reclamo bastante, mas por nada largo meu ofício. Acredito na educação, mas não no sistema educacional atual. Espero uma reviravolta nos moldes em vigor, antes que as coisas saiam do controle.

Gosto da companhia dos amigos, por isso abro as portas de minha casa para todos eles e os deixo tão à vontade como se estivessem em suas próprias. Compartilho do meu pão, da minha água, do meu uísque, do nacional é claro, o importado apenas a um seleto grupo dentro do círculo fraterno. Bons papos, conversas amenas, um programa íntimo em conjunto, tudo isso me satisfaz. Não preciso de agitação todas as noites para me satisfazer, na maioria das vezes sentar no sofá e assistir a um bom documentário, ou mesmo um filme bobo, bebendo e beliscando um aperitivo qualquer é muito mais prazeroso do que uma noite entre desconhecidos conhecidos.

Gosto ainda mais de ficar sozinho, embora precise de alguém muitas vezes. Faz parte de minha estranha figura trancafiar-me no escritório e refletir a vida. Já experimentei o convívio em sociedade de diferentes formas, mas preferi a solidão como amiga íntima. Sigo meus próprios horários e não mudo minha rotina. Lavo a louça quando quero, arrumo a casa quando melhor me convém. Dito minhas próprias regras e não dou satisfação a nenhuma pessoa por minhas escolhas. Sou independente, pago minhas contas, batalho pelo meu sustento, não preciso, pois me sujeitar aos caprichos de ninguém.

Gosto de adormecer nos braços da mulher amada, e ainda mais de acordar ao seu lado, mesmo que seja raríssimo, salvo em poucas oportunidades. Gosto de amá-la nesse ineditismo que esta relação me representa. Descobri que a felicidade existe graças ao brilho dos seus olhos, mesmo que eu bata no peito para defender meu direito de ser triste, uma vez que a tristeza é parte de mim. Momentos diáfanos ocorrem quando juntos o mundo pára, embora o tempo corra célere, sem respeitar as vontades do nosso pobre coração.

Gosto de pequenas coisas na vida. Eu valorizo detalhes que para a maioria são insignificantes. Tenho minhas loucuras e às vezes sou meio radical com minhas atitudes. Não sou perfeito como nenhum homem é, não sou especial, nem anormal; eu sou apenas um pouco diferente neste mundo de pessoas tão iguais.

Mas o que eu gosto mesmo é de fazer sexo pela manhã.




Alberto da Cruz

14 de julho de 2011

Todo amor se acaba com um motor batido

Sou um amante de carros. Completamente apaixonado por essas belezinhas automobilísticas. Passo horas admirando modelos, lendo revistas especializadas e sonhando com máquinas belas e potentes. A paixão é tão grande que gera ciúmes diversos, por isso tenho medo de que a mulher amada me peça, um dia, para escolher entre ela e os carros. Ficaria em uma sinuca impossível de sair, na saia justa mesmo. E pior ainda seria dar uma resposta. Imaginem a cena:

“— Não dá mais para disputar sua atenção, querido. Ou esse maldito carro ou eu!
Silêncio.
— Querido, ou o carro ou eu?
Mais silêncio.
— Porra! Será que você pode parar de encerar essa merda pela milésima vez e falar comigo?
— Depois de polir ele vai ficar lindo, não é?”

O carro para o homem não é somente um meio de transporte, é a extensão de o seu próprio ser. Um pedaço projetado pela engenharia que, em muitas vezes, diz quem ele é. Na busca por “status”, o desejo por um modelo de marca famosa e série limitada é comum a todos, desde o jovem ao homem feito. Desfilar pelas ruas da cidade com seu novo automóvel faz bem ao ego masculino, tão bem quanto o quarentão que exibe sua namoradinha de 18 anos. Se juntar os dois então, teremos a vida perfeita.

Talvez por isso, cuidamos tão bem de nossos amados carros. Facilmente dizemos uma série de nãos, inventamos diversas desculpas, até mesmo doenças que nos põem de cama por tempo indeterminado, para não varrer a casa, lavar o banheiro, arrumar a cama, o que seja; mas para pegar a mangueira e ficar horas sob um sol escaldante molhando o carrinho, não há mal que nos impeça.

" — Querido, você não estava passando mal? — pergunta a esposa.
— Estava não, meu bem — responde o marido, levando a mão ao estômago e fazendo cara de dor — estou ainda.
— Então o que é que você está fazendo aí?
— Nada não.
— Como nada não?
— Sabe como é, eu estava lá na cama, sentindo dor. Vim pegar um pouco de sol, senti calor e resolvi molhar a cabeça. E já que a mangueira estava na minha mão, eu não iria deixar o carro ficar com vontade, né?
— Hã!? E a louça que pedi para você lavar?
— Ai que dor! Acho que, assim que terminar aqui, vou me deitar um pouquinho.
— Puta que o pariu — resmunga ela, batendo a porta da cozinha."

Posso facilmente comparar o carro a uma mulher, com a diferença de que, por incrível que pareça, gastamos mais e muito mais felizes com nossos carros. Se falta dinheiro para renovar o guarda-roupa, comprar melhores iguarias culinárias, arrumar as necessidades da casa, vamos empurrando como dá, privando-nos de várias coisas para, assim que a situação desapertar, dar um jeito. Mas se o carro apresenta um mínimo sinal de problema, corremos ao mecânico e assinamos o cheque sem pensar duas vezes, mesmo que o valor do conserto ultrapasse o nosso ordenado. Afinal cheque especial existe para isso, não é mesmo?

Não há maior prazer do que, num sábado de sol, passar o dia inteiro lavando a lataria com água e sabão especial. Encerar delicadamente cada parte como se fosse o corpo de uma magnífica mulher. Retirar o pó do interior com cuidado redobrado para não riscar o painel. Aplicar silicone nas partes plásticas para revitalizar o que foi gasto. Horas de deleite, impagáveis momentos em que o dono e o carro comungam como um casal perfeito, sem brigas, discussões ou insultos, somente o amor de um com o outro como bons amantes que são.

Dirigir é uma terapia que custa só o preço da gasolina. Eu, quando tenho um problema, não penso duas vezes, corro à garagem e pego a estrada. Abro os vidros e deixo o vento entrar. Ouço o som dos pneus no asfalto e me esqueço da vida e dos males que carrego em minha cabeça. Quando regresso, não tenho mais nada para me perturbar, um pouco fica em alguma curva, outro no pisar no acelerador, outro na troca de marchas e o último problema, na arrancada forte que faz o coração disparar.

Amo os carros, mas, às vezes, o afeto não é retribuído. Todo amor se acaba com um motor batido.

Alberto da Cruz

11 de julho de 2011

O ontem, hoje

Engraçado como as coisas se pintam na vida. Às vezes se tem tanto a dizer, mas o interlocutor é surdo aos nossos delírios, ou somos mudos quando realmente temos algo de importante a dizer. Passamos por crises diversas na vida, umas importantes demais, outras insignificantes, mas, em geral, são essas que não têm o grande peso que nos põe loucos, ou à beira de um ataque de nervos.

Perdoem-me os amigos, mas estou hoje um tanto sentimental, saudosista, nostálgico. Falta-me o fogo, esfriou o quarto tão de repente, que não tive tempo de buscar o cobertor. Será que o presente está rumando para o passado? Não me entendo quando se trata da emoção. Talvez seja a estrela que morreu, extinguindo seu brilho. Não, realmente não entendo.

Sinto saudade no meu peito, e minha consciência grita como um desesperado em agonia. Tenho saudades, mas não sei se do hoje, ou do ontem longínquo residente nos escombros da memória. Está tão frio aqui. Não me sinto à vontade, não sei mais dizer palavras confortantes, amorosas, românticas. Algo em mim está morto, ou apenas ausente. Tantas dúvidas, tantas indecisões, nenhuma certeza do que havia pouco era o Certo. Mas há certeza em algo, quando a vida é cheia de surpresas e reviravoltas indiferentes à nossa simples vontade?

Sem querer, pus-me de frente ao passado. Escolhas. Desleixos. Inocência. Descuidos. A vida tão surpreendente quando nos guia o caminho por onde nunca imaginávamos passar.

Quem imaginaria, num dia comum, esbarrar com dois passados, ao mesmo tempo, juntos? Dois passados sorridentes, numa caminhada despreocupada pelas ruas do presente. O tempo. Os anos correm, as pessoas envelhecem, perdendo a beleza da juventude. As bocas, os calafrios, os sentimentos, tudo muda; nada permanece igual ao que era antes. Corpos, bocas, nucas. O cheiro, este não muda. As paixões do antes não voltam ao coração. Só mesmo na etimologia, trazemos de volta as imagens perdidas nas falhas da memória. Duas bocas. Duas línguas. Dois corpos. Todos somados a um, formavam um triângulo saudoso de cheiros, cabelos, pelos unidos sobre o mesmo lençol.

Quantos anos se foram no calendário das vagas lembranças? No mínimo dez, onze talvez. Quantas palpitações de corpos se perderam? Quantas carícias? Quantas juras em segredo? Foram amores verdadeiros ou devaneios de paixão? Ah, nada melhor do que o cheiro do passado como o da chuva fina no asfalto!

As três bocas estalaram em toques no rosto, acompanhadas de palavras aos surdos, ditas como mudos, em passos que se separaram depois. As bocas, os corpos se foram. E eu fiquei imóvel em meu instante. Mas agora sinto o gosto que o tempo malogrou. As bocas que foram minhas, e hoje nada são. Os corpos que tive, e hoje não passam de cogitação.

Façamos, então, um brinde ao ontem, como singela lembrança da juventude expirada; como uma sutil recordação do que já não volta, nem vale a pena voltar.

Alberto da Cruz

9 de julho de 2011

Obrigado, Cabral

A forma com que Sérgio Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro, trata os professores é vergonhosa. É indecente a proposta de incorporação do Nova Escola aos vencimentos dos servidores. Não bastasse as diferenças de valores na gratificação, o governador ainda propõe a diminuição do plano de carreira, obtido depois de muitas discussões.

Depois de anos sem reajuste salarial, tivemos o desprazer de ouvir propostas risíveis nos últimos anos. Um aumento de doze por cento, dividido em pequenas prestações soou como desrespeito. Quando finalmente tivemos a boa notícia da incorporação do piso máximo aos nossos mirrados vencimentos, poucos acreditaram, e fizeram bem em não acreditar em tamanha lorota.

Sérgio Cabral se comprometeu em nos conceder este aumento em parcelas anuais até o ano de 2015. Um ultraje à categoria que sofre todos os dias com salas lotadas, com a falta de estrutura das escolas e um salário que, em breve, será menor que o mínimo.

Ontem houve votação na Alerj para a lei que diminuiria nosso plano de carreira e nosso aumento salarial parecido com um carnê das Casas Bahia. O que se viu foi o cúmulo do desrespeito ao educador estadual. Policiais lançaram bombas de efeito moral nos professores que acompanhavam a votação, deixando feridos os profissionais que lutam pelos seus direitos ignorados por um governante sem escrúpulos, como todos os outros que prometem e nunca cumprem. Não bastasse a violação dos nossos direitos, ainda agridem o professorado, um dos alicerces da formação e transformação social, moral e fisicamente.

Devemos lembrar ao nosso governador que não somos criminosos, apesar de nos tratarem como seres marginalizados. Não somos arruaceiros, somos professores querendo melhores condições de vida, um salário justo e, principalmente, respeito.

Não me admira o estado do Rio de Janeiro ser tão violento, depois da selvageria de ontem. Uma polícia despreparada, professores miseráveis, governantes hipócritas. A soma desses fatores mostra a cara do Rio de Janeiro: o paraíso para quem é de fora, um inferno para quem está dentro.

Agora vamos esperar até 2015 para receber a nossa esmola. Continuar ensinando, porque somente o amor à educação nos motiva a entrar nas salas de aula, já que o incentivo é a base de presentes desnecessários e investimentos duvidosos.

É melhor ter cuidado com a greve, pois se não tivermos, ficaremos também sem a merenda que, muitas vezes, é o único prato que vemos sobre a mesa.

Obrigado, Cabral, por expor ao Brasil a miséria do educador fluminense.

Rio de Janeiro,
09 de setembro de 2009

4 de julho de 2011

O revés do desgosto

Sempre que discutimos sobre alguma coisa que ocorreu conosco, ouço que só me lembro dos fatos ruins, como se não existissem bons momentos em uma relação. Obviamente, no calor insuportável de nossas brigas, eu só menciono as palavras mal interpretadas ou as ações impulsivas que provocaram algum tipo de sofrimento, na maioria das vezes em mim. Acredito que faça parte dessa hora em que a tensão misturada com a raiva ganha a razão em um jogo desigual. É difícil ponderar quando o sangue está fervilhando. Os erros vêm novamente à tona, não por maldade, mas acabam saindo sem que eu perceba os danos que causo com minhas palavras rudes em meus estúpidos momentos de raiva — e ultimamente eu tenho andado como um cão raivoso, perdendo a paciência facilmente e agredindo qualquer um que me olhe atravessado. O estresse do fim de ano acaba comigo, embora eu tente lutar tenazmente para manter a calma. São provas intermináveis para corrigir, dezenas de diários para fechar, reuniões extraordinárias, conselhos de classe, contas a pagar, textos para entregar, fila de banco, fila de correio, presentes de natal, escolhas, decisões e eu cada vez mais nervoso com o pouco tempo que me sobra no meio de toda essa loucura.

Como as intempestividades ocorrem sem que possamos mudá-las, faz-se necessário domar a fúria negativa que me assola como um leão faminto numa jaula, pois, caso contrário, suas garras podem dilacerar facilmente aquele que provém seu alimento. Não é diferente conosco. Quando brigamos, acabo dizendo o que era melhor calar, a fim de não ferir. O grande problema é que não me calo e, agindo como um violador de túmulos, desenterro mágoas que deveriam há muito ter sido esquecidas. Não lembrar as dores passadas é essencial para a construção do futuro quando não trazem nenhuma lição importante. Não é que não a tenha, mas não se faz preciso dizer do que já foi. Devemos, pois, olhar adiante e buscar novos caminhos para deixar as coisas melhores, sem a sombra do pesar. Não sei ao certo, mas me parece que lentamente estou aprendendo sobre minhas dores na alma, deixando descansar em paz os mortos de minha mente, lutando contra meus fantasmas. Mas não me tem sido fácil enfrentar essa horda nociva sem sair ferido do combate.

Se no momento de mágoa deixo escapar os tormentos, não quer dizer que a nossa vida a dois seja um eterno desgosto, pelo contrário. Passamos juntos os melhores momentos que já vivi. Nada se compara a ternura de um dia com ela. Quando solitário em minhas ilusões ouço o telefone tocar, com o coração a bater desenfreadamente, espero que seja ela do outro lado da linha. É difícil explicar a alegria que me toma quando ouço sua voz gostosa me dizer palavras simples como apenas um “oi”. Quando vejo seu sorriso depois de um dia cansativo de trabalho, meu mundo inteiro parece parar para admirá-la e o cansaço se esvai rapidamente, surgindo em mim uma força que nem sequer imaginava existir. Ao encontrá-la, num abraço saudoso, sentir o calor de sua pele é o contentamento contra as minhas frustrações diárias. Em sua boca morre minha inquietude quando me aprazo com seus beijos carinhosos de ternura. E quando detenho seu corpo delicado sob o meu, bruto, sou uma fênix renascendo das chamas do meu caos para uma vida mais cheia de amores.

Nessas horas de deleite, não há mácula que perdure. Todos os sentimentos de desgosto se vão ao primeiro toque, às vezes nem mesmo isso, pois somente um olhar choroso seu me faz retroceder em minhas decisões impensadas e correr para os braços como uma criança carente aos braços da mãe. E a amo mais, muito mais do que antes, pois só a possibilidade de perdê-la me faz entrar em pânico. Quando a vejo, ainda sinto tremerem minhas pernas e meu coração bater muito mais forte. Se isso é paixão, o fogo voraz que queima rapidamente e logo se apaga, esta dura mais e mais e mais, chegando ao ponto de se fechar um ciclo anual e ainda assim o calor no corpo é o mesmo em proporção crescente do que no início de nosso sério compromisso. Certamente o que temos não é paixão, é mesmo Amor. E não é só desejo, nem um laço físico. O que temos transcende os limites corpóreos e sobe aos céus sublimado.

Alberto da Cruz