23 de abril de 2012

Dos sonhos que me invadem a lucidez


Havia pouco, não sonhava e, se sonhava, meus sonhos eram tolices que não me incomodavam, apenas imagens de desejos, acontecimentos, nada me provocasse emoção ou reflexões sobre qualquer assunto. Se sonhava, as variadas cenas disformes, aos poucos, eram apagadas sem provocar o menor impacto em mim. Hoje, porém, as coisas mudaram. Os sonhos me confundem, atordoam-me sem que eu consiga entender o real motivo da sucessão de acontecimentos que me perturbam o sono.
 
Tenho medo de dormir. A palavra certa é esta mesmo: medo. Acordo suando, um suor frio, gelando-me o corpo, escorrendo pela tez e molhando a gola da camisa. Sobe-me um odor nauseante, um cheiro forte que me faz cambalear, palpitar, franzir o cenho e lamentar. E já me lamentei duas vezes hoje.
 
Por duas vezes fantasmas me vieram visitar, sem que os convidasse a invadir meu delírio. Odeio os sonhos perturbadores, os sonhos que me fazem pular da cama como se houvesse algo a me repelir do conforto dos lençóis, da proteção infantil das cobertas sobre o rosto, do travesseiro macio que sustenta o peso dos meus problemas: a consciência.
 
É tarde, faz frio e estou só; isolado do convívio, recluso na madrugada como um prisioneiro encarcerado em grilhões inquebráveis. Estou só, pois o meu filme surreal impeliu-me para fora do aconchego, do calor de outro corpo, lançando-me na dúvida do existir.
 
Algo ficou para trás. Tenho certeza de que inconscientemente tento resgatar esta falha em minhas memórias, desesperadamente construindo as imagens que me desconcertam a harmonia da sobriedade. Freud poderia me explicar isso?
 
Às vezes tudo o que eu queria era deitar e apenas dormir, recostar a cabeça e dar alívio ao corpo cansado dos massacres diários do mundo real. Só queria descansar, mas não consigo, pois minha mente enche meu mundo de fantasia, angústia e desespero. Antes fosse um pesadelo, uma viagem por cavernas escuras, cheias de medo... mas o que vem como um mortal disparo é pior do que qualquer imagem de horror fictício, repleto de monstros cruéis e criaturas lendárias; a minha mente traz pessoas normais em situações banais. E me incomoda o fato de não terem relação entre si, mas na história que se passa em minha cabeça, não só os distantes desconhecidos se interrelacionam como se fossem íntimos, mas também regem o rumo da mina vida.
   
Mas quem são esses fantasmas que agora me perseguem? Que sentido têm as suas aparições inesperadas em meu momento de inércia? Pululam dúvidas onde havia certezas. E agora, o que era certo tornou-se incerto, o que era calmo converteu-se em agito, uma tormenta sem sentido.

   

Alberto da Cruz

4 de abril de 2012

Artista sem público, o palhaço triste

Não pedi ao mundo seriedade, tampouco ser o casmurro da trupe dos artistas sem público. Mas o sou.

Alberto da Cruz