
Infelizmente, como cafetão, recebo por elas o valor do prazer que proporcionam. Mas por mal dispô-las à venda, o valor pago não é suficiente para nada, nem mesmo para um café e um cigarro barato, na padaria da esquina. Minhas palavras não me dão prazer, são frias como um cadáver de mulher com as pernas abertas sobre a cama, totalmente passivas, esperando, indiferentes, o término do ato. E depois, vestem-se para partir, exigindo seu pagamento parco.
Quando se vão, deitado em minha cama, só consigo pensar em que estado decadente lhes fiz o horrendo parto. Como filhas sem pai, gerei-as por orgulho e vaidade. Quis oferecer-lhes o melhor de mim, po-rém o meu melhor foi o pior que pude produzir. Agora tenho que aturá-las no mundo, dar-lhes o mínimo de afeto ou partirão de minha vida, deixando-me entregue a um sentir desesperado, no isolamento completo do abandono.
Por mais vadias que sejam, e são, fazem companhia nas noites solitárias que perco sem dormir. Mes-mo sabendo que para mim o preço é maior, farto-me com elas num incesto monstruoso, consumindo suas virtudes, tentando transformá-las no que me convêm, embora, no fim, seja eu o modificado, o rejeitado pela produção precária da lida mal realizada.
Devorando minhas putas palavras, tenho a ilusão de ser alguém por um instante. Sonho com melho-res dias e um reconhecimento tardio. Chego a acreditar que posso assumir o bordel, ampliá-lo, elitizá-lo, me-lhorar o seu produto, oferecer mais variedades, fazer brilharem os olhos dos clientes, orná-lo com belas peças de consumo. Mas acordo e percebo que manter utopias não me traz a felicidade. Sou incapaz de algo bom. A mediocridade é a minha sina.
Minhas palavras são vergonhas saindo da boca como blasfêmias, contudo ainda insisto em dizê-las; insisto em desperdiçar tempo com imundices e dejetos do meu ego ferido. Insisto porque preciso delas, mas elas não precisam de mim.
Minhas palavras são putas. E eu estou falido.
Alberto da Cruz
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